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Partimos
do pressuposto de que a ecologia política constitui um campo já estabelecido de
reflexão intelectual crítica, que se retroalimenta a partir de variadas formas
de articulação com os atores coletivos que protagonizam os conflitos ambientais.
Aceitando este ponto, se abrem na realidade várias interrogações de dimensões
teóricas e epistemológicas que, em perspectiva, implicam em uma diversidade de
estratégias discursivas e de ação.
A
Ecologia Política virá a constituir um campo disciplinar próprio? Ou essa será
uma vã pretensão, tendo já consolidado uma orientação baseada no diálogo de
saberes? Quais são as condições e pressupostos de diálogo com outras tradições
críticas das ciências sociais? Como criar situações performáticas de
conversação e intercâmbio com as ciências “da natureza”, construindo, de modo
concomitante, uma reflexividade crítica sobre os modelos e as práticas dos
atores científicos e tecnológicos? Como facilitar e traduzir os diálogos de
saberes indispensáveis entre os atores dos conflitos ambientais?
A
presente proposta de seminário visa levantar questões pertinentes ao campo da
Ecologia Política, não apenas promovendo o debate acadêmico entre aqueles que
pesquisam, militam ou vivem os conflitos pela apropriação dos recursos naturais
e territórios neles presentes, como também disseminar para o público mais amplo
tais debates de natureza interdisciplinar e caráter cada vez mais urgente. É
importante ressaltar que este seminário se vincula com um conjunto de
atividades promovidas pelo Grupo de Trabalho em Ecologia Política do Extrativismo
do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO), constituído por uma
série de instituições de ensino e pesquisa na América Latina, representando,
portanto, uma articulação institucional e internacional de importância
destacada no cenário das ciências sociais latinoamericanas.
Apresentação
As dramáticas pressões constituídas pela expansão
intensa da apropriação e extração dos recursos naturais em América Latina tem
fornecido um novo impulso ao diálogo regional no campo da Ecologia Política,
promovendo uma articulação não apenas interinstitucional, como também
internacional, fundamental para a compreensão de determinados processos no
contexto da região. A partir destas questões, surgiu entre vários profissionais
das ciências sociais atuantes no campo acadêmico do Rio de Janeiro a iniciativa
que aqui apresentamos. Se trata da organização de um evento (seminário), com
duração de três dias, provavelmente em instalações da Universidade Federal
Rural de Rio de Janeiro, localizada no centro da cidade de Rio de Janeiro, com a assistência e
participação de vários especialistas nacionais e regionais e presença de
diversas instituições de ensino e pesquisa.
A
proposta está baseada em uma articulação interinstitucional de universidades
públicas do Rio de Janeiro e do Brasil, que pretende favorecer a continuidade
de diálogos e intercâmbios entre o campo acadêmico brasileiro com destacados
especialistas latinoamericanos, protagonistas da reflexão regional no espaço da
Ecologia Política.
O
evento será realizado nos dias 12, 13 e 14 de novembro de 2014. Terá uma
conferência inaugural, a cargo do Dr. Enrique Leff, da Universidad Nacional Autônoma
de México, um dos expoentes mais reconhecidos no âmbito da Ecologia Política
latinoamericana, e será desenvolvido, em seguida, na forma de mesas redondas e
debates sobre diferentes eixos temáticos. Está previsto o livre acesso ao
público, com foco no público universitário. Prevê-se uma conferência de
encerramento a cargo do Dr. Antonio Elizalde, da Universidad Bolivariana de
Chile.
JUSTIFICATIVA & METODOLOGIA
Na
última década, a Ecologia Política se estabeleceu apropriadamente no pensamento
social da América Latina, uma região onde a questão das relações
Sociedade-Natureza e os conflitos delas recorrentes estão alcançando níveis
críticos. Tendo-se multiplicado os eventos, a realização de inúmeros estudos
empíricos de caso e a presença da sua problemática em todas as instâncias da
vida acadêmica, o grau de amadurecimento e adensamento crítico da Ecologia
Política vem colocando novos desafios, de ordem teórica e epistemológica.
O
seminário projetado responde primeiramente ao reconhecimento realista do
crescimento qualitativo da Ecologia Política, assim como da multiplicação
exponencial, em termos quantitativos, da sua presença efetiva em termos de
pesquisadores dedicados ou inspirados por ela, eventos, publicações, dentre
outros indicadores. Paralelamente, incorpora a necessidade impostergável de iniciar
o desenrolar de um processo de avaliação, atualização e reconceituação
teórico-epistemológica.
Dentre
as múltiplas opções possíveis para iniciar esses necessários debates, temos
selecionado três eixos, a nosso ver, de importância estratégica. Por um lado, há
a necessidade de uma reavaliação do próprio perfil intelectual da Ecologia
Política, do seu caráter interdisciplinar, das suas competências dialógicas com
diferentes tradições das ciências sociais e com a cada vez mais indispensável
realimentação com as ciências da natureza. Ao mesmo tempo, o acúmulo de
inúmeros estudos de caso dedicados aos conflitos ambientais ou eco-territoriais
e seus atores possibilita e exige um avanço na direção de novos aparelhamentos
conceituais e, eventualmente, metodológicos. Por outra parte, as diferentes
formas de conhecer, de avaliar, de construir, de disponibilizar para o uso
humano os territórios e seus recursos, na perspectiva da sua preservação, abre
interrogações no âmbito da interculturalidade, dos estudos comparados, da
etnologia, da sociologia econômica, incluindo os estudos de gênero.
Pretendemos
que, por meio destes debates, o espaço acadêmico do Rio de Janeiro seja percebido
como um espaço destacado, a nível regional e internacional, do compromisso e da
reflexão com uma das maiores problemáticas afrontadas pela humanidade
contemporânea, dando prosseguimento ainda a eventos como a Eco-92 e a Rio + 20.
A realização do evento em uma universidade pública, aberto à presença do
público, assim como o seu impacto e repercussão através dos meios de
comunicação, deve contribuir também para o exercício da reflexão acerca da
temática ambiental nas camadas de estudantes em formação, e na opinião pública
em geral.
COMITÊ ORGANIZADOR
Hector Alimonda - UFRRJ
Cleyton Gerhardt - UFRGS
Vanessa Hacon – UFRRJ
Juanita Cuellar Benavides - UFRRJ
Camilo Torres - UEA