COP30 em Belém: Falta de estrutura ou estratégia de sabotagem?
Belém está (des)preparada?
Não há rede hoteleira suficiente para acomodar delegações.
O transporte público é precário.
O saneamento básico é insuficiente.
Os eventos climáticos extremos (calor, chuvas torrenciais, alagamentos) se intensificam a cada ano.
Enquanto isso, a preparação da cidade segue sem transparência, participação popular ou planejamento estratégico. A impressão é que se improvisa uma cidade-cenário para um evento que será blindado da realidade local.
A pergunta incômoda: estão sabotando a COP30?
É preciso considerar uma hipótese política: e se o despreparo não for só negligência, mas uma forma de sabotagem institucionalizada?
Um evento em um local sem infraestrutura:
Dificulta a presença de representantes da sociedade civil, povos indígenas e movimentos sociais.
Restringe a participação a elites diplomáticas e empresariais.
Cria um ambiente despolitizado, controlado e superficial.
A COP30 pode ser sequestrada por interesses que falam de “transição verde”, enquanto promovem novas formas de greenwashing — com marketing ambiental e pouca transformação real.
Belém: ponto de encontro de múltiplos “tipping points” ambientais
Escolher Belém para sediar a COP30 deveria significar muito mais do que uma decisão geográfica ou simbólica. A cidade é, na prática, uma zona crítica de convergência de crises globais, pois concentra manifestações locais de pelo menos cinco dos nove tipping points ambientais globais já reconhecidos pela ciência:
🌳 1. Colapso da floresta amazônica
O desmatamento avança no entorno urbano e rural de Belém. A fragmentação de florestas em ilhas verdes aumenta a vulnerabilidade ecológica e acelera a savanização.
🌊 2. Elevação do nível do mar
Belém já sofre com inundações constantes em bairros de baixa altitude. A elevação do nível do rio Guamá e da Baía do Guajará impacta diretamente comunidades ribeirinhas e urbanas.
💧 3. Disfunção no ciclo hidrológico amazônico
A destruição florestal compromete os “rios voadores” — massas de umidade que regulam o clima do continente. Isso afeta diretamente o regime de chuvas da região.
🌡️ 4. Ilhas de calor urbano
O crescimento desordenado e a perda de cobertura vegetal tornam Belém uma cidade cada vez mais quente, com impactos diretos na saúde pública (doenças respiratórias, cardiovasculares e aumento da mortalidade de idosos e crianças).
🌱 5. Erosão da biodiversidade
Belém, outrora um berço de biodiversidade urbana, perde a cada ano espécies de fauna e flora por conta da poluição, da impermeabilização do solo e da expansão urbana sem critérios.
Transformar ou encobrir?
É inadmissível que uma cidade com esse grau de complexidade ambiental seja tratada como palco cenográfico.
Belém poderia ser um laboratório vivo de soluções sustentáveis baseadas na natureza, na ciência local, na agroecologia urbana, nos saberes dos povos originários. Mas corre o risco de ser maquiada para a câmera e abandonada depois da foto oficial.
A COP precisa ser da Amazônia, não sobre ela
É urgente:
Garantir infraestrutura justa e acessível, não apenas “vistosa”;
Incluir as vozes amazônicas em todos os níveis do evento;
Fazer da COP um momento de inflexão real, e não de propaganda vazia.
Porque Belém não está apenas em risco — ela é um espelho do que está por vir no planeta inteiro se não tomarmos outro rumo.