INTRODUÇÃO
Escatológico, bizarro, inacreditável são termos aplicáveis a forma como a modernização técnica sem um fundamento cultural ético desenvolveu-se no Brasil (DEAN,1998) e na Amazônia (SANCHEZ,2005). Desde o projeto elitista e xenófobo de 1950 que criou mestrados, doutorados e centros de pesquisa avançada no Amazonas, sem considerar a total inexistência de ensino básico, médio e técnico, que pudesse formar pessoas para suprir os alunos desses cursos de pós-graduação e vagas de concurso público, pessoas que acabaram vindo do sudeste de Brasil e do exterior, protelando por décadas o acesso da população local a educação cientifica, tão necessária para sua melhora social. Projetos de pesquisa como o da vaca clonada que matou milhares de animais em 1990, só para mostrar que Brasil podia estar à altura da bizarrice europeia, para justificar-se frente a elite pecuarista local. Ou o projeto que criou a soja que podia ser plantada no Cerrado que agora provoca a desertificação, o desmatamento e a concentração ofensiva da renda no Brasil, sem preocupar-se com a mudança climática, a preservação da população humana indígena, ribeirinha e cabocla amazônica e da floresta. Ou a proposta da pesquisadora da Embrapa que quer vender palmeira de açaí e mandioca para ribeirinho e indígena, similar a um dos anos 1980 que pretendia vender fertilizantes químicos para os ribeirinhos do estuário amazônico colocar em áreas de mare. Ou o exemplo escatológico dado por um pesquisador do mais alto gabarito em genética a alunos do ensino médio do Amazonas, onde achava perfeito pegar cinzas de pessoas mortas, que são compostas de carbono, e converter mediante um complicado e caro processo em diamantes, só para que seus parentes pendurassem no pescoço um colar de diamantes fabricado com essas cinzas dos mortos, sinal de que o instinto de supervivência e desejo de eternidade e mais forte que a simples razão auto evidente.
Estes truculentos exemplos práticos geram a necessidade de se refletir como a sociedade amazônica e brasileira dependente da civilização europeia ocidental (CROSBY,1993) incorporaram o avanço cultural da Modernidade escolhendo só a parte da eficiência técnica (SANCHEZ, 2016), mas sem os controles culturais e éticos, que foram criados para não criar os monstros do que Francisco Goya falava, quando dizia que o “sonho da razão cria monstros”, e dizimando as culturas e povos não modernos junto com as florestas; os passos de animal grande dos negacionistas, terraplanistas e outros animais de camarata nos corredores das instituições de saúde, educação, ciência e tecnologia do pais não permitem augurar nada de bom para esta reflexão necessária.
Deve-se enfrentar a oposição entre modernização e modernidade, posto que já se chegou ao ponto em que os mecanismos funcionais da modernização são aplicados ao campo dito natural de forma indiscriminada e existe o risco de que a modernização do mundo natural não sobrevivera ao fim da modernidade de que derivou (THOMAS,1996). “Nesta perspectiva a modernização [do mundo natural] (...) não pode sobreviver ao fim da modernidade cultural, de que derivou, não devera poder resistir ao anarquismo <<vindo dos tempos imemoriais>>, cuja bandeira a pós-modernidade arvora”.
Para descrever como a modernização técnica do mundo pode-se impor sobre a modernidade cultural e cientifica (OLIVEIRA,2002) que a origino na Amazônia, até esmaga-la, devemos descrever como a técnica se diferencia de sua origem cultural na ciência e se posiciona como o meio privilegiado para o desocultamento do Ser-Mundo humano e natural.
A proposta imagética de Habermas (1990) não pode ser mais esclarecedora sobre a relação entre os objetos-sujeitos e as ideias, afirmando que nas ideias e nos objetos produzidos pela modernização se esconde a mera vontade de poder, o poder objetivado ou subjetivado. Nos objetos de aço é onde está “cristalizada” esta condição dual dos objetos. Uma arma de fogo ou uma faca possui duas faces: uma ideia de poder objetivada e um objeto de posse subjetivado.
Insurge a pergunta sob como enxerga esta visão de mundo, as ideias e objetos do mundo da vida humana e natural? Foucault pode responder no caso do mundo da vida humana, no âmbito da linguagem, das palavras e das coisas ou na governomentalidade e na biopolitica (FOUCAULT, 2008), na situação do mundo da vida natural ainda subsiste a disputa e para esclarece-la um pouco vai-se dialogar com Martin Heidegger e sua crítica da técnica moderna.
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