sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

MUNDO DA VIDA E O DESENCANTAMENTO DO MUNDO NA AMAZONIA: A RACIONALIDADE ADMINISTRATIVA

Estes princípios de racionalização atingiram diretamente o mundo da vida natural. Para o campo anglo-saxão, Keith Thomas em 1996 dissipa a noção previa de que antes da industrialização, o homem dava mais valor à natureza. Ao contrario, somente quando a flora e a fauna foram dizimadas na Europa, e reduzidas a poucas espécies com um grande número de indivíduos, é que a natureza passa a ser objeto de estimação. O autor mostra como se passa da violência contra o mundo natural, onde a natureza era um inimigo numa guerra sem quartel, para um vínculo baseado na simpatia. As formas vivas antes do desencanto do mundo eram vistas como membros imperfeitos da comunidade humana e utilizados a revelia de sua condição. Depois do desencanto do mundo junto com a sua progressiva eliminação, a flora e a fauna da Europa passam a ser vistas como entes dignos de apreço e simpatia, numa romantização, diferente da primeira de tipo neurótico, que não impede a continuação da domesticação de umas poucas espécies e a destruição da grande maioria das formas de vida natural73. Será possível isso haver sucedido da mesma forma no estuário amazônico? A diferencia do acontecido na Europa, a formação estrutural do estuário amazônico nunca teve grande violência contra a natureza por parte dos moradores tradicionais sejam estes indígenas, negros ou caboclos, e as tentativas européias de desmatamento não deram resultado ate hoje, não incorporou-se por completo à economia mercantil e não se industrializou plenamente. Os valores cristãos dos invasores sofreram miscigenação com as crenças dos cristãos novos, indígenas e africanos e ainda não experimentou um processo completo de instalação de uma racionalidade instrumental. A modernidade iluminista mercantil mundializada no estuário amazônico foi realizada de forma parcial quando comparada com o acontecido na Europa. Esta desintegração das concepções religiosas sobre o mundo da vida, ou sua substituição por outras, se operou não tanto pela substituição da experiência mágica do mundo pela experiência da razão moderna, foi pela sua substituição da visão mágica pela visão racional do mundo protestante (op.cit). Esta substituição da cultura mágico-religiosa, num estágio mais 73 THOMAS, KEITH. O homem e o mundo natural [1983]. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 57 avançado da modernização, significa que a cultura profana, uma visão esclarecida sobre o mundo da vida, não substitui a antiga cultura sagrada, e nem uma outra cultura religiosa a substitui, pois é uma “cultura administrada e instrumentalizada”, que invade as esferas do mundo da verdade, a moral e a beleza. Pode ser na forma de uma “atitude administrativa” orientada a administrar, gerir e manejar estas esferas humanas do mundo da vida. Este processo esta em pleno andamento no estuário amazônico com a entrada das igrejas evangélicas e as teorias de administração racional na transição entre a forma estrutural nacional-desenvolvimentista industrial NDI e a forma tecnocientifica informacional globalizada TIG. Os princípios que sustentam a visão moderna das formas do mundo da vida não são homogêneos em toda Europa ocidental, na Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Espanha e Portugal existiram variações que dificultam sua interpretação e que obrigam a entender estas variações como uma confluência de várias vertentes intelectuais74. No Brasil, no estuário amazônico e na Amazônia confluíram estas visões de mundo75 facilitando sua analise integrada, e claro aumentando as dificuldades desta. Nesta tese será a visão unitária dos europeus o objeto da argüição. No

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