domingo, 26 de outubro de 2025

Manga Cametá, Tommy Hatkins e passaros Curió no quotidiano de Belém



Quem caminhar ou navegar pelas praças de Belem e os portos como o de Icoaraci pode se deparar com situações como esta, e quem sabe, bater uma foto ou gravar um video para comparar as mudanças desde 1981, 2003 a hoje 2025, meio seculo ou 50 anos depois talvez poderão ver que, tudo mudo sem mudar nada.





 

Ate o ano de 2003 as mangas Tommy produzidas e importadas desde o Vale do Rio São Francismo, área de monocultura industrial, não tinham saido das pratileiras dos supermercados e entrado na rede de comercio fluvial do estuário da cidade de Belém. No porto de Icoaraci, na periferia da cidade de Belém, foi registrada a imagem de um homem de aspecto similar ao fotografado por Madalena Schwartz em 1981, no seu barco vindo de Abaetetuba trazendo um carregamento de mangas do tipo Cametá.

 Homem pardo de cabelo curto pela sua aparência ele viajo a noite inteira para chegar em Belém de manha, ele não oferece um canastro de mangas ao fotografo, oferece todo o carregamento de mangas a venda, sem anel matrimonial ele talvez é solteiro ou separado.

Quais as diferenças visíveis entre esta imagem e seu ator da imagem captada por Madalena Schwartz em 1981. Pode-se dizer que nenhuma apos 22 anos. O barco é de maior porte mas isso não estabelece uma diferença grande. As embalagens utilizadas para transportar a manga são ainda de palha retirada e tecidas na propria propriedade do barqueiro.

 A presença do pneu velho delata as sobras que a expansão das rodovias como a Belém-Brasília, vão deixando pela região desde os anos oitenta. O teto do barco fabricado com zinco é bastante similar ao teto do barco da fotografia feita em 1981 revelando a permanência das técnicas de construção de navios na região.

 Atras do homem na fotografia observa-se um canastro de palha que foi remendado utilizando uma linha de plástico. Na fotografia anterior isto não aparecia, será que é o começo da substituição do material vegetal pelo material plástico nas embalagens de palha. Uma alternativa perversa as formas modernas e não modernas de incorporação das mangas na formaestrutural que estas fotografias registravam insurge destorcida na Belém de 2004.

Sera possivel que os turistas aprendices como Mario de Andrade durante a COP30 conseguirem bater a foto do comercio de passaros que usa a manga como isca. Quando a imprensa registra mais um comércio clandestino onde pessoas nomeadas como “desocupados” acusados quem sabe de “caboclos”, utilizam mangas impregnadas com resina viscosa, colocadas nas frutas de manga, para atrair periquitos e passaros Curió.

 As aves, capturadas, são depois vendidas por R$ 10 a unidade no comercio local. Eles agiam principalmente nas praças da República, Batista Campos e Nazaré, aquelas mesmas que representam a fase áurea da exploração da borracha amazônica e o principal surto da modernidade cultural ocidental na Amazônia. Se registra que muitos destes pássaros estão sendo comercializados no Nordeste, sobretudo para o Ceará, denotando a possibilidade de ser nordestinos os agentes deste comercio infame, a nota jornalística conclama a atuação do IBAMA para enfrentar esta perversão da atual estruturação regional.

quarta-feira, 22 de outubro de 2025


 

Observações de neo extrativismo de manga (Mangifera indica) na cidade de Belém do Pará

 






A manga, mangueira, mango, 芒果 , आम (ām), مانجو , segundo De Candolle é impossível contestar a origem da manga no sul da Ásia ou no arquipélago Malaio onde existem antigos nomes populares e ate em sânscrito (amra). A manga encontrasse selvagem nas florestas de Sri Lanca, áreas ao pé do Himalaia, nas ilhas Andaman no golfo de Bengala. Paulo B. Cavalcante em 1991, cita quatorze variedades de manga identificadas nos mercados populares da cidade de Belém do Para o que contradiz as afirmações sobre a baixa seleção aplicada pela população amazônica nesta arvore frutífera.

Quem for para Belem a COP30 e dar um paseio a pe, podera observar a leí não escrita sobre a posse das frutas que existe em áreas interioranas do estuário amazônico também é aplicada e seguida a risca dentro da cidade. “Respeito da posse de objetos como a terra ou as frutas ou qualquer objeto na comunidade existe uma lei [não escrita] que diz que “a fruta [ou coisa] que cai quem passar pode pegar, e a fruta [ou coisa] que seja de apanhar as pessoas tem que pedir obediência [permissão] para os donos dela. 

Isto indica que, por exemplo, áreas onde tem havido trabalho de roça recente são de posse da pessoa que fez a roça e na medida que deixa de ser “roça de apanhar” e passa a ser “roça de cair” a posse é paulatinamente coletivizada, uma roça de cair na verdade é capoeira com diferentes graus de desenvolvimento.”

Uma situação que responde a esta ‘legislação não escrita” sobre as mangueiras foi observada foi a atitude de dois jovens de cerca de 18 anos, que indo numa bicicleta deteram-se para pegar uma fruta de manga do solo na avenida Quintino Bocaiúva no centro da cidade de Belém esse mesmo dia de Setembro de 2003. 

A queda de frutas de manga é algo recorrente nas ruas da cidade de Belém, isto ha quase duzentos anos desde a introdução das arvores na arborização urbana por Landi. os dois rapazes morenos de aspecto humilde sem camisa e de calça curta velha denotando o aspecto de pedreiros começaram a sorrir de felicidade e pararam a bicicleta correndo para pegar a fruta do solo pondo ela dentro da sacola de objetos que levavam, e continuando sua viagem em direção a fora do centro alto e valorizado da cidade.


Um ano atrás em 2002, foi observado o comportamento de uma pessoa extremamente humilde que vestia um calca curta toda rota e despedaçada que coletava frutas de manga diretamente das arvores da avenida Gentil Bittencourt. Esta avenida esta delimitando o centro alto e valorizado da cidade da periferia baixa e menos valorizada. Ele usava um saco de plástico de 60 kg e tinha quase 100 frutas guardadas na parte alta da arvore de manga com a intenção de vender elas no mercado. Este neo-extrativista urbano mostro ao pesquisador quanto a não modernidade e a ruralidade da formação estrutural do estuário amazônico permeavam um meio supostamente urbano como o bairro Nazaré, o mais nobre da cidade de Belém.

Tambem foi observado bem enfrente da Asembleia paraense um clube de elite no bairro de Batista Campos de Belem como um homem elegantemente vestido descia de um carro importado para pegar uma manga como se fosse uma joia ou uma barra de ouro, este homem branco muito bem vestido entrou no seu carro de vidro fume feliz de ter achado um tesouro que depois mostraria para sua familia em alguma cobertura da Doca de Souza Franco.

Assim os asistentes a COP30 que andarem a pe pelas calçadas e praças de Belem poderão quem sabe observar e bater uma foto ou ate um video desse neo extrativismo urbano praticado por cidadaos de todas as classes sociais da "Cidade das Mangueiras"


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Mangas amazonicas e coloniais: do reino vegetal ao do plastico

Quem caminhar pela cidade de Belem na COP30, podera acessar um dos locais onde acontece o momento de contato entre o estuário rural não –moderno e o estuário urbano modernizado são os portos de Belém, o mercado de Ver-o-Peso, na tradicional feira-do-açaí e outros portos menores como o porto de Icoaraci. Nestes locais acontece a fase de descarrego, preparação da venda e a fase de venda das frutas que são os dois momentos da entrada das frutas na cidade, neste caso a manga e o açaí, na cidade de Belém. A manipulação da manga e a movimentação do açaí em recipientes de uma palha especial similares um a outro é um momento importante deste processo. Ali se pode entrever uma serie de conflitos entre o moderno e o não moderno materializados no uso ou não de embalagens de palha ou de plástico para armazenar as frutas.


Neste momento de aportamento no porto da feira do açaí se descarregam todas as atitudes dos moradores ribeirinhos na sua relação com os moradores da urbe. Momento de prova física para os jovens que carregam de diversas formas os paneiros de açaí e de manga. Passagem do meio aquático para o meio terrestre. Da juventude para a maturidade. A manga e o açaí são seu peso demonstrando sua virilidade e amadurecimento. O recipiente onde se carrega a fruta passa a ser o objeto de interesse nas suas possibilidades de carregar os pesos e as qualidades dos objetos neste caso as frutas. Ao ponto do tratamento dispensado ao açaí e a manga não ser muito diferente somente que pela maior valorarão do açaí este utiliza paneiros mais finos e de menos idade.


Momento de reflexão e preparo para os mais os homens velhos que organizam as frutas em grupos demora quase quatro horas. Passagem da posse usuária a posse de troca. Avaliam-se as vantagens de cada variedade da espécie em termos de sua troca monetária. A manga e o açaí são seu qualidade alimentar.


Momento de intensa atividade incontrolada onde juntam-se as negociações rápidas e o transporte rápido das frutas denotando o mudança de mãos das frutas, dura no máximo uma hora. Momento da comercialização e troca monetária. Participação feminina visível e discreta. A manga e o açaí são seu preço.


Schwartz, Madalena,Vendedor de Manga,Brasil 1981

A Fotógrafa responsável pela imagem, Magdalena Isabel Mandel de Schwartz nasceu em Budapeste, Hungria 1923 e faleceu em São Paulo em 1993, radicou-se em São Paulo, em 1960, vinda da Argentina, onde havia vivido desde 1936. Foi dona de uma lavanderia no centro da capital paulista antes de começar a trabalhar profissionalmente com fotografia no início da década de 70, depois de ter feito seu aprendizado técnico no Foto-Cine Clube Bandeirante, no qual ingressara em 1966. Destacou-se como retratista, tendo trabalhado para a Rede Globo de Televisão entre 1979 e 1991. Considerada a grande dama do retrato contemporâneo no Brasil, participou de diversas exposições e salões internacionais. 


Segundo seus críticos é impressionante como Madalena Schwartz fixa a fisionomia das pessoas que fotografa. Como acerta fotograficamente, uma imagem da gente do Brasil. É difícil achar quem poderia pensar nisso, nem por onde começar, voando e parando na imensidão onde o povo está espalhado, escondido no verde dos campos ou agitado entre as paredes de concreto das metrópoles. Gente que trafega, trabalha, pensa e sonha: quem vai enquadrar e fotografar. Foi Madalena a se envolver, ingênua e audaz, na tarefa. Pode ser que como conseqüência de seu contínuo itinerar de reportagens, vendo e revendo caras, registrando-as para outros e para si. Madalena escolheu sem escolher: acertou o povo de qualquer origem, os humildes e os que se tornaram famosos no olimpo do esporte ou no fechado setor da cultura, recompondo o Brasil. Cada um pode encontrá-lo e representá-lo como vê, crê e ama. Ela o viu, nele acreditou e o amou à sua cordial maneira.


Seguindo essa linha de interpretação as mangas na fotografia realizada em 1981, são trazidas pelo homem dentro de uma canasta de fibra vegetal igual as usadas para o transporte do açaí. Canasta que atualmente esta sendo questionada como imprópria para seu uso no novo mundo das frutas modernizadas e substituída por uma embalagem quadrada de plástico.


As mangas na imagem estão manchadas povoadas por algum fungo ou parasita, só por isso seriam impróprias para serem exportadas fora do Brasil, mas são fundamentais na dieta dos moradores da cidade de Belém.


Pela expressão de força dos braços do homem o canastro esta bastante pesado, quem sabe alem da capacidade física deste homem que sobre explorado, por se mesmo, se mantém livre do novo mundo assalariado. O peso das frutas não impede do homem mostrar o sorriso discreto efranco de quem esta dando ou doando algo precioso, será a vida transmitida no alimento extraído da seu sitio alagadiço. Ou a doação ou troca de um objeto de forma livre mesmo que autoexplorada


Atras vem-se cerca de 50 canastros denotando a possibilidade de existir lá no sitio do caboclo muito mais que essas cerca de 100 mangas. O cabelo escuro e a pele parda a pesar do branco e preto da fotografia mostram a naturalidade do homem, o rio a água e o sol. A mão que esta a mostra, abaixo do cesto das mangas, revelando o corpo de outro homem na embarcação denuncia a filiação católica dos tripulantes do barco. O anel na mão izquerda deste homem o prova.


As mãos delicadas, frágeis em aparência, agarram o cesto com cuidado e perícia. Esse mesmo desenho de cesto só que com um olho de menor diâmetro é utilizado para carregar açaí. O próprio homem põe a frente de si o canastro de mangas mostrando que para ele o importante é esse canastro abundante cheio de mangas. O ator principal desta trama é a transmissão da vida em forma de fruta ou de ser humano.


Será que o barco ancorado do lado chama-se “Salém” ou “Jeru-salém”, rememorando as bruxas e os inquisidores que ainda agora através das palavras digladiam-se no mundo real, bruxas do mercado e inquisidores da ciência que cercam de cadeias a estes moradores ribeirinhos.


Madalena Schwartz foi cobrir um Congresso Internacional de Bruxas na cidade de Bogotá no ano de 1975. Será que as mangas da fotografia são representantes ou ícones de um mundo da vida humana e natural marginal, pagão e mestiço que entra na cidade central, católica e branca, através desses barcos de madeira. Seu doce amarelo manga contamina as pessoas com esse mundo escuro e mágico escondido no meio das arvores de manga dos quintais das ilhas do estuário. Em 2025 o congresso internacional de Bruxas acontece de novo em Bogota. 


Pelo aspecto do contexto no fundo da imagem observa-se que a ação foi registrada numa das ilhas frente da cidade num igarapé pode ser a ilha das Onças ou a Trambioca. O barco iradona direção da jusante do igarapé indica que a maré esta vazando. Esse pano de fundo é característico da totalidade do estuário amazônico. Ao igual que a continuidade entre as águas do estuário, os furos, igarapés e grandes rios que conformam a planície de inundação amazônica, a continuidade entre o mundo da vida humana e natural somente será garantida se existir uma interdigitação entre as formas vegetais de um mundo e outro, e forem similares preservando as conexões entre a fauna e seus hábitos alimentares e de moradia e dos seres humanos e seus hábitos de alimentação, moradia, lazer e crenças.


A fotografa reconheceu a importância da relação entre o barco e o canastro de mangas ao compor a fotografia incluindo o barco como fundo de perspectiva e profundidade da ação principal que é a mostra que o homem faz do recipiente com as mangas. Mas será que ela se deu conta de que havia passado a fazer parte do mundo da vida amazônico? Será que a fotografa Madalena Schwartz compro as mangas? Será que o homem deu elas de presente para ela? Um processo de Mercadorização ou de Comunicação construído nesse preciso momento, lugar e materiais.

Ate quando as mangas e o açaí so vão entrar no porto de Belém, na feira do açaí, será que num futuro não longinquo sera vista a manga Tommy sendo embarcada para ser vendida no interior do estuário, antes produtor de mangas regionais, como resultado final da eliminação das “mangas da terra” da formação estrutural. Ou escutaremos algum cientista afirmando que as manchas na manga Cametá são perigosas para a saúde da população, propalando assim argumentos para a eliminação desta fruta regional do mercado, como já acontece com o açaí.

Quem andar a pe pelas ruas e portos de Belem podera quem sabe bater uma foto e registrar se a substituição dos páneros de palha vegetal foram substituidos pelas caixas de plastico aumentando assim a epidemia de microplasticos na alimentação dos povos amazonicos.

sábado, 13 de setembro de 2025

A ecologia política da Amazônia: Ecologia política Amazônia, primeira sessão do curso acontecido na UEA/CESTB/EIPECAM/LAEDS 11/11/2024

 A ecologia política da Amazônia exige que voltemos um passo antes da técnica para interrogar os modos pelos quais aprendemos a ver a natureza e a ver uns aos outros. Durante a formação em biologia, acostumamo-nos à linguagem das leis, das variáveis e do “erro” estatístico. Em laboratório, a variação é ruído a ser controlado; na vida, porém, a variação é regra constitutiva. A diferença não é apenas metodológica: ela denuncia uma ontologia. Quando passamos do animismo e do totemismo — em que rios, florestas e animais são pessoas, parentes e coautores do mundo — para a racionalidade instrumental ocidental, instituímos uma separação entre sujeito e objeto que torna a natureza coisa obediente, mensurável e manipulável. Essa chave cognitiva sustenta o avanço da ciência moderna, mas também o fetichismo da mercadoria, o extrativismo e as rotas pelas quais a crise ambiental se converte, hoje, em crise civilizatória.


Chamar de “ecologia política” o estudo dessas questões não é simples soma de temas. Ecologia, por si, trata das relações entre seres e ambientes; política, da arte de habitar a polis — gerir conflitos, pactos e indiferenças entre pessoas. A ecologia política interroga quem define a natureza, com que ideias, a mando de quais interesses e com quais consequências distributivas. É, portanto, um campo que põe lado a lado cosmologias (biodiversidade, Pachamama, Gaia, biosfera) e arranjos de poder (estados, mercados, comunidades), reconhecendo que cada modo de imaginar a natureza abre e fecha possibilidades de uso, de cuidado e de violência.


A modernidade europeia condensa esses deslocamentos. A revolução científica consolidou a causalidade e a lógica meios-fins como gramática de inteligibilidade do real; a expansão ultramarina e o capitalismo transformaram mundos em circuitos de mercadorias. Marx mostrou que a mercadoria é forma social que encobre as relações de exploração, inclusive a mercadoria-trabalho fabricada pela escravidão moderna. Weber observou como certas instituições e éticas — notadamente a protestante — forjaram sujeitos disciplinados, calculistas e metódicos, afinados com a acumulação. Durkheim, por sua vez, indagou como a coesão social se recompõe (ou se rompe) em meio à diferenciação moderna. O ponto é que ciência, religião, economia e direito não operam em compartimentos estanques: são engrenagens de uma mesma máquina civilizatória que aprende a tratar o mundo como reserva infinita para projetos de domínio.


No espaço amazônico, a primeira modernidade abriu-se como fronteira mercantil. Desde o século XVII, Belém tornou-se entreposto de circulação de açúcar, pau-brasil e “drogas do sertão”. O regime de aviamento, alimentado pelo endividamento e, antes dele, pela escravidão africana, articulou o comércio de longa distância a uma economia extrativa de base florestal. A borracha é o emblema dessa ordem: sua ecologia — árvores dispersas, produção sazonal, necessidade de deslocamentos longos — empurrou o sistema para formas predatórias de exploração do trabalho e do ambiente. A segunda modernidade, industrial, não substituiu esse padrão; apenas o potencializou com o motor a vapor, a motosserra, a retroescavadeira e a logística de grandes volumes. Manaus, primeiro enriquecida pelo ciclo da borracha e depois reconfigurada pela Zona Franca, expressa a ambivalência: modernidade técnica concentrada na capital, baixa difusão territorial, interior mantido como hinterlândia extrativa e consumidor de mercadorias importadas.


O fracasso de Fordlândia é lição paradigmática. A tentativa de impor monocultura de seringueira ao estilo do agronegócio industrial encontrou pragas para as quais o arranjo ecológico florestal tinha respostas próprias (dispersão das árvores, heterogeneidade, mosaicos), mas que a racionalidade padronizadora recusou ver. Somam-se as doenças tropicais em cidades operárias desenhadas contra os conselhos do ambiente. A imagem é direta: quando a técnica ignora a ecologia, o sistema vivo devolve a conta. O mesmo vale para outras cadeias: a exploração do açaí pelo palmito mata as palmeiras e desertifica a renda; já o manejo do fruto sustenta a planta, diversifica usos e distribui benefícios. No garimpo, o mercúrio acelera o ganho privado enquanto socializa contaminação e doença; tecnologias sem mercúrio existem, mas exigem outra temporalidade, outra infraestrutura e outro pacto social. Em todos os casos, escolhas técnicas são escolhas políticas encapsuladas.


A crise que hoje nos atravessa não é só do clima, da água, da biodiversidade; é da própria gramática civilizatória que nos ensinou a ver sementes como “unidades replicáveis”, pacientes como “casos”, estudantes como “recipientes” e florestas como “estoques”. O que retorna como desmatamento, eventos extremos, epidemias e injustiças é o efeito cumulativo de um mundo organizado para otimizar meios em direção a fins estreitos e de curto prazo. Não se trata de negar a ciência — sem a qual sequer reconheceríamos a magnitude dos danos —, mas de recuperar outros regimes de relação com o vivo capazes de temperar a racionalidade instrumental com vínculos de reciprocidade, cuidado e limites.

Nesse ponto, a educação torna-se alavanca. Pesquisa e extensão, sozinhas, não alteram práticas se não houver sujeitos aptos a traduzir entre as linguagens do laboratório e as dos territórios, entre a curva dose-resposta e a história das comunidades, entre o planejamento logístico e as ontologias indígenas, ribeirinhas e quilombolas. A ecologia política propõe esse ofício de ponte: aprender a teoria social clássica não como dogma, mas como ferramenta; reaprender as cosmologias locais não como “folclore”, mas como inteligência ambiental; requalificar a tecnologia não como fetiche, mas como arte de adequação. Isso implica também treinar o olhar para ler as controvérsias públicas: reconhecer, numa matéria de jornal, quem fala pela biodiversidade e quem fala pela mercadoria; rastrear fluxos de poder, de financiamento e de risco; distinguir manejo de espoliação; valorizar experiências de economia do cuidado que, silenciosamente, já produzem sustentabilidade real.

A pergunta que nos guia — como queremos viver? — desloca o debate do “que explorar e com que eficiência” para “que relações queremos sustentar e com que responsabilidades”. O animismo e o totemismo não são, aqui, passados a serem romantizados, mas lembranças de que é possível habitar o mundo como parente, e não como proprietário. A racionalidade instrumental não precisa ser descartada; precisa ser situada e contrabalançada por cosmologias que reconhecem agência, interdependência e limites. Talvez a Amazônia ainda exista, em parte, porque nunca foi totalmente subordinada ao ideal de uniformização; porque sua ecologia resiste à monocultura e porque muitas de suas gentes, apesar de pressões seculares, preservam redes de reciprocidade e conhecimento. Cuidar desse resto ativo não é nostalgia: é condição de futuro.

Se a modernidade nos deu ferramentas potentes, cabe-nos agora refinar a “peneira” com que filtramos seus usos. Um tecido intelectual mais denso — no qual biólogos leem Weber, sociólogos estudam ecologia, engenheiros reconhecem cosmopolíticas indígenas — pode carregar pesos maiores sem rasgar. O que está em jogo não é um ajuste técnico, mas uma mudança de relação: transformar a ciência de instrumento de extração em prática de aliança; transformar políticas públicas de comando-controle em arranjos de co-gestão; transformar mercados de mercadorias indiferentes em economias situadas, cuidadosas e reparadoras. É nesse território — entre saber, poder e pertencimento — que a ecologia política da Amazônia encontra sua tarefa.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS_🌱 🍿 CINEMA AMBIENTAL🍿 📌📌 Local: LABORATÓRIO DE AGROECOLOGIA UEA/CESTB



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🍿 CINEMA AMBIENTAL🍿


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Local: LABORATÓRIO DE AGROECOLOGIA  UEA/CESTB

HORA: 9H00 E 15:00 PM

DATA: 18/09/2025

PÚBLICO: COMUNIDADE UEA

⚠️ Certificado 2 horas acadêmicas

Acompanhado com🍿🤤

NÃO FALTEM!!!






 

Webinário de Centros de Educação Ambiental e Salas Verdes - região Norte

sábado, 23 de agosto de 2025

COP30 em Belém: Falta de estrutura ou estratégia de sabotagem?

 COP30 em Belém: Falta de estrutura ou estratégia de sabotagem?




A Amazônia sediará a COP30 em 2025. Belém, capital do Pará, foi escolhida como anfitriã oficial. Mas o que deveria ser símbolo de protagonismo climático global pode acabar se tornando um retrato do fracasso coletivo em lidar com a emergência climática — e, pior, talvez não seja por acaso.


Belém está (des)preparada?





Não há rede hoteleira suficiente para acomodar delegações.


O transporte público é precário.


O saneamento básico é insuficiente.


Os eventos climáticos extremos (calor, chuvas torrenciais, alagamentos) se intensificam a cada ano.


Enquanto isso, a preparação da cidade segue sem transparência, participação popular ou planejamento estratégico. A impressão é que se improvisa uma cidade-cenário para um evento que será blindado da realidade local.


A pergunta incômoda: estão sabotando a COP30?


É preciso considerar uma hipótese política: e se o despreparo não for só negligência, mas uma forma de sabotagem institucionalizada?


Um evento em um local sem infraestrutura:


Dificulta a presença de representantes da sociedade civil, povos indígenas e movimentos sociais.


Restringe a participação a elites diplomáticas e empresariais.


Cria um ambiente despolitizado, controlado e superficial.


A COP30 pode ser sequestrada por interesses que falam de “transição verde”, enquanto promovem novas formas de greenwashing — com marketing ambiental e pouca transformação real.


Belém: ponto de encontro de múltiplos “tipping points” ambientais


Escolher Belém para sediar a COP30 deveria significar muito mais do que uma decisão geográfica ou simbólica. A cidade é, na prática, uma zona crítica de convergência de crises globais, pois concentra manifestações locais de pelo menos cinco dos nove tipping points ambientais globais já reconhecidos pela ciência:


🌳 1. Colapso da floresta amazônica


O desmatamento avança no entorno urbano e rural de Belém. A fragmentação de florestas em ilhas verdes aumenta a vulnerabilidade ecológica e acelera a savanização.


🌊 2. Elevação do nível do mar


Belém já sofre com inundações constantes em bairros de baixa altitude. A elevação do nível do rio Guamá e da Baía do Guajará impacta diretamente comunidades ribeirinhas e urbanas.


💧 3. Disfunção no ciclo hidrológico amazônico


A destruição florestal compromete os “rios voadores” — massas de umidade que regulam o clima do continente. Isso afeta diretamente o regime de chuvas da região.


🌡️ 4. Ilhas de calor urbano


O crescimento desordenado e a perda de cobertura vegetal tornam Belém uma cidade cada vez mais quente, com impactos diretos na saúde pública (doenças respiratórias, cardiovasculares e aumento da mortalidade de idosos e crianças).


🌱 5. Erosão da biodiversidade


Belém, outrora um berço de biodiversidade urbana, perde a cada ano espécies de fauna e flora por conta da poluição, da impermeabilização do solo e da expansão urbana sem critérios.


Transformar ou encobrir?


É inadmissível que uma cidade com esse grau de complexidade ambiental seja tratada como palco cenográfico.


Belém poderia ser um laboratório vivo de soluções sustentáveis baseadas na natureza, na ciência local, na agroecologia urbana, nos saberes dos povos originários. Mas corre o risco de ser maquiada para a câmera e abandonada depois da foto oficial.


A COP precisa ser da Amazônia, não sobre ela


É urgente:


Garantir infraestrutura justa e acessível, não apenas “vistosa”;


Incluir as vozes amazônicas em todos os níveis do evento;


Fazer da COP um momento de inflexão real, e não de propaganda vazia.


Porque Belém não está apenas em risco — ela é um espelho do que está por vir no planeta inteiro se não tomarmos outro rumo.




segunda-feira, 11 de agosto de 2025

La parte mas profunda del rio Amazonas son sus comunidades humanas

 


    El canal principal del rio Amazonas frente de Leticia hasta hace un tiempo tenia la mayor profundidad, cerca de 20 a 50 metros, y esa mayor profundidad del canal del rio es segun tratados entre Peru y Colombia el limite de los dos paises, asi Santa Rosa seria una isla peruana porque esta al sur del canal mas profundo del rio Amazonas, con el processo de migracion natural de dinamica fluvial del rio Amazonas de norte a sur, el canal mas profundo del rio se localiza ahora al extremo sur de la isla de Santa Rosa dejando la isla al norte de ese canal mas profundo y por eso teoricamente localizandose dentro del territorio de Colombia. 

    La realidad es que sobre la isla de Santa Rosa hay una ocupacion de ciudadanos peruanos con escuela, puesto de salud, servicio de policia y migracion, que en un momento ocuparon terreno peruano, pero que ahora se localiza en territorio que deberia ser asignado a Colombia para mantener el criterio de que el limite entre Colombia y Peru esta en la linea mas profunda del canal del rio Amazonas. 

    Solo que esa linea de profundidad que puede ser medida haciendo una batimetria con sonar desde un barco finaliza en areas de frontera seca o de tierra firme entre Brasil y Colombia, rehacer el limite entre Colombia y Peru trae la necesidad de redefinir la linea de la triple frontera entre Brasil, Colombia y Peru. La creacion de un distrito administrativo en la isla de Santa Rosa es respuesta peruana a las necesidades de esos pobladores por servicios publicos muy bien intencionado pero que acaba generando la necesidad de redefinir esos limites.

     La ultima revision de las fronteras entre Colombia, Brasil y Peru genero el Plan de Zonificacion Ambiental del eje Tabatinga Apaporis PAT en 1997 en el caso de Brasil y Colombia, y el  Plan para el Desarrollo Integral de la Cuenca del Río Putumayo -PPCP, en 1998, que demuestra que estos eventos son una gran oportunidad para revisar y mejorar cooperativamente las condiciones de vida de las comunidades que viven en estas areas transfronterizas. 

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Dissertação sob ataque: como a jornalista Paula Litaiff virou alvo de perseguição em meio à disputa política e midiática na Amazônia

  


 
Dissertação sob ataque: como a jornalista Paula Litaiff virou alvo de perseguição em meio à disputa política e midiática na Amazônia

Subtítulo:
Investigação judicial sobre a dissertação de mestrado de Paula Litaiff revela um contexto de intimidação sistemática contra jornalistas na Amazônia e expõe a escalada de tensões entre veículos locais, como Revista Cenarium e Portal CM7.


Manaus (AM) – A jornalista Paula Litaiff, fundadora da Revista Cenarium, está no centro de uma polêmica que extrapola os limites da academia. Sua dissertação de mestrado em “Sociedade e Cultura na Amazônia” — ainda em fase de finalização na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) — passou a ser questionada judicialmente por atores ligados ao setor de mídia local. Mas os bastidores desse embate apontam para algo mais grave: um histórico de perseguição articulada, violência simbólica e institucional, e tentativas reiteradas de silenciar vozes críticas na imprensa amazônica.


De pesquisadora a alvo

O foco das investidas seria o conteúdo da dissertação, que trata de comunicação, gênero e poder no jornalismo regional. Mas a tentativa de deslegitimar o trabalho acadêmico de Litaiff ocorre em paralelo a uma série de ataques pessoais e profissionais que ela vem sofrendo desde 2022. O caso mais emblemático ocorreu em novembro de 2024, quando áudios vazados atribuídos a Cileide Moussallem, CEO do portal concorrente CM7 Brasil, revelaram ameaças de morte contra Paula e suas filhas menores.

“Vou contratar pistoleiros para resolver isso”, dizia um trecho do áudio amplamente divulgado por veículos nacionais e denunciado por entidades como a Abraji e a FENAJ.


Guerra entre redações

O conflito entre os dois veículos, Cenarium e CM7, vai além das diferenças editoriais. Enquanto a Revista Cenarium adota uma linha progressista, com foco em direitos humanos e jornalismo investigativo, o Portal CM7 Brasil atua com uma estética mais popular e vinculações informais a grupos políticos conservadores do Amazonas.

Em 2019, o CM7 foi condenado judicialmente a excluir conteúdos considerados falsos e difamatórios contra Litaiff, e Cileide foi posteriormente condenada a pagar indenização por danos morais à jornalista. Ainda assim, os ataques não cessaram: em janeiro de 2025, Cileide foi indiciada por injúria, difamação e ameaça de morte após o vazamento dos áudios. A investigação foi encaminhada à Justiça.


A máquina política por trás da mídia

Não é coincidência que a disputa midiática esteja entrelaçada com interesses políticos. Cileide Moussallem tem histórico de atuação político-partidária: foi candidata a deputada estadual pelo PHS (hoje incorporado ao Podemos) e, em 2023, filiou-se ao PP — legenda ligada a nomes do centrão.

Além disso, seu filho, Rômulo Moussallem, ocupa um cargo comissionado na Câmara Municipal de Manaus, com salário de aproximadamente R$ 6.900 mensais. A nomeação partiu do vereador David Reis (Avante), figura com histórico de articulação com o grupo político de Moussallem. Antes disso, Rômulo já havia sido exonerado de cargo semelhante na Assembleia Legislativa do Amazonas.


Um padrão de silenciamento na Amazônia

Paula Litaiff não está sozinha. A região amazônica é uma das mais perigosas para o exercício do jornalismo no Brasil, segundo dados da FENAJ e da Repórteres sem Fronteiras.

Casos recentes incluem:

  • José Francisco Silva de Araújo, jornalista de Iranduba, ameaçado por número vinculado ao prefeito da cidade.

  • Repórteres da TV Norte Amazonas (SBT), agredidos fisicamente durante cobertura eleitoral.

  • O repórter Alex Braga, do AM Diário, atacado após denunciar corrupção.


A tentativa de deslegitimar o pensamento crítico

O questionamento da dissertação de Paula Litaiff — um processo interno e acadêmico — passa a ser instrumentalizado fora do ambiente universitário como mais uma ferramenta de perseguição política e pessoal. A tentativa de descredibilizar sua produção científica se alinha a uma estratégia mais ampla de assédio judicial e moral, comum em regimes hostis à liberdade de imprensa.

"Esse tipo de ataque não visa apenas a Paula, mas o próprio direito de pensar criticamente a realidade amazônica", afirma um professor da UFAM, sob condição de anonimato.


Conclusão:
O caso de Paula Litaiff exemplifica como as trincheiras da política, da imprensa e da academia se sobrepõem perigosamente na Amazônia, especialmente quando o jornalismo decide enfrentar o poder. Ao invés de debate democrático, o que se vê é a judicialização do pensamento, a criminalização da crítica e a privatização dos espaços públicos por grupos que confundem mídia com máquina de guerra.


 

terça-feira, 3 de junho de 2025

DOCUMENTÁRIO: SEREMOS HISTÓRIA?

 

[12:30, 03/06/2025] Eu? Descubra: VOCÊ VAI FICAR SÓ ASSISTINDO O PLANETA DESAPARECER? 🌱


🔥 As mudanças climáticas já estão entre nós!

Tempestades, secas, calor extremo... tudo isso é consequência da ação humana e da queima desenfreada de carvão, petróleo e gás. O tempo está passando e rápido! ⏳


🎬 No Dia Mundial do Meio Ambiente, o Cine Ambiental convida você para uma exibição poderosa:

📽️ DOCUMENTÁRIO: SEREMOS HISTÓRIA?

Uma pergunta urgente. Um chamado à consciência.

Vamos entender o que está acontecendo com o planeta  e o que ainda dá tempo de fazer!

📅 Data: 05 de junho de 2025

🕘 Horários:

✔️ Manhã: 9h30

✔️ Tarde: 15h

📍 Local: Laboratório de Agroecologia – UEA/CESTB


🚨 O planeta está pedindo socorro.

💡 Vamos agir antes que a história acabe  e nós viremos passado.

👣 Participe. Traga sua voz. Traga sua ação.

 


terça-feira, 11 de março de 2025

 🌴 🌴 🌴 


A REDE DE SOLUÇÕES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA AMAZÔNIA (SDSN AMAZÔNIA) certifica que a solução Agricultura de Quintais familiares urbanos em Tabatinga e Benjamin Constant no Estado do Amazonas 

liderado pela Professora Maria Francisca Nunes de Souza do Instituto Natureza e Cultura da Universidade Federal do  Amazonas (UFAM), foi selecionado como SEGUNDO COLOCADO na Chamada de Soluções Sustentáveis para Amazônia da  Universidade Federal do Amazonas - UFAM 2019/2020. 

Manaus, AM, 28 de julho de 2020 


Virgilio Viana

 Coordenador da SDSN Amazônia 

Adalberto Luis Val 

Presidente do Comitê Técnico-Científico  da Plataforma de Soluções 

Carolina Ramírez Méndez 

Secretária Executiva  

da SDSN Amazônia